sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Divertida e saborosa noite de carnes especiais a quatro mãos


Stinco de javali a caçadora com risoto de linguiça húngara, uma das atrações das Carnes Especiais.
Gosto quando os cozinheiros se encontram para aprontar alguma. Na cozinha, é claro.
É que aí o trabalho se transforma em algo bem mais lúdico. E para quem já tem o prazer de cozinhar na rotina profissional do dia-a-dia esses momentos são ainda mais divertidos. Tem coisa melhor do que ver qualquer um deles se esmerando para fazer o melhor possível na brincadeira que inventou?
Não tem – respondo de chofre. A prova mais recente que tive foi agora, na noite do “Festival das Carnes Especiais” do C La Vie Restaurante. Juntos os chefs Lênin Palhano, do C La Vie, e seu mestre (dá para dizer assim?) Ivan Lopes, do Terra Madre, de quem Palhano foi o imediato e substituto durante um bom tempo. Ambos premiados aqui pela casa: Palhano foi apontado como o talento jovem 2010 do Prêmio Bom Gourmet, enquanto Lopes, dias atrás, foi eleito como chef 5 estrelas 2011, também pela mesma publicação.
O jantar estava admirável, daqueles de se guardar na memória por um bom tempo. Começou com um Espetinho de Kobe com flor de sal e roti. Kobe é a carne nobre das mais nobres – publiquei bastante sobre isso nos últimos dias. E esta chegou à mesa como se deve, simples, apenas com o toque da flor de sal, sem qualquer outra interferência no seu sabor (para mim até mesmo o molho roti seria desnecessário, por mais que viesse à parte e não interferisse no paladar). O que é bom deve ser apresentado ao natural, sem desvios nem nada. A perfeita irrigação do Kobe, marmorizado de gordura, permite a maciez total. Servido rosado por dentro, como se deve, o espetinho foi tudo de bom.
Em seguida, Bife de chorizo Devon grelhado com farofa de cebola caramelizada e molho chimichurri. O Devon é um gado britânico, de carne bem macia e saborosa. Muito bom, o chimichurri completou o tempero (como fazem os argentinos), mas a farofa roubou a cena. Deliciosa, raspei o prato.
O primeiro prato das caças foi o Stinco de javali a caçadora com risoto de linguiça húngara. Gosto do stinco (seja do que for, vitelo, carneiro, porco, javali...) pelo que a peça representa no preparo, exigindo o cozimento em baixa temperatura para permitir a maciez e ressaltar o sabor. Este estava na medida, o javali sempre tem uma carne bem saborosa e aqui os cozinheiros capricharam no produto final. Inclusive no acompanhamento, levando para o risoto aquela linguicinha bem fininha que a gente conhece muito bem como aperitivo. Deu resultado.
Paleta de cateto ao forno com polenta bramata cremosa e pancetta crocante fechou o cardápio das carnes especiais. Carne macia que se desmanchava, polenta suave e cremosa contrastando com o crocante da pancetta (aquele enrolado italiano da barriga do porco que alguns erradamente confundem com bacon sem saber que uma é curada e o outro é defumado) em tira.
Bons tintos foram sugeridos pela casa para a harmonização dos pratos. Tanto quanto o sauternes que chegou ao final, escorando a delicada e saborosa sobremesa, Mil folhas de doce de leite argentino.
Somando tudo isso dá para se imaginar o resultado final, não dá? Por isso, quando souber que tem cozinheiro inventando moda, pode seguir atrás, sem susto. O que vem daí é sempre fascinante.

C La Vie Restaurante
Rua Comendador Araújo, 970 – Batel
Fone: (41) 3029-9988

Para fotos de todos os pratos da noite, entre no novo endereço do blog, clicando aqui


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