sábado, 16 de janeiro de 2010

O D’Acampora sem o Zeca

Zeca d'Acampora continua por lá. Sentindo falta dele, por tudo que representou para a gastronomia do Sul do País (e do País), palavra que estava curioso para saber como andavam as coisas após sua partida. Como no ano passado não foi possível a peregrinação anual para a Praia dos Ingleses, dessa vez não teve escapatória.
Ainda guardo na lembrança a surpresa da primeira vez, há dez anos, quando descobrimos o precioso talismã gastronômico encravado no meio da Ilha da Magia, atendendo apenas sob reservas e em curto espaço de tempo durante a temporada ("Ravióli com ostras do sonho" era o Prato da Boa Lembrança de 1999, que tenho aqui na parede de casa. Advogado ocupado e bem sucedido, passava o ano todo estressado, cozinhando para amigos e para um ou outro evento de vez em quando. Mas a partir de 1996, quando chegava janeiro, parava com tudo e dedicava alguns dias à paixão pela cozinha. Lá mesmo, ali na SC 401, a ligação do centro de Florianópolis com as praias do norte da ilha. Transformada em bistrô àquela altura. A mulher, Lélia, dava mão na cozinha, enquanto as filhas, Maria Eduarda e Ana Carolina, eram as responsáveis pelo atendimento do bistrô D'Acâmpora. E assim foi, crescendo até ser premiado como melhor chef de Florianópolis em 2006 e ser reconhecido no primeiro escalão dos cozinheiros brasileiros, figura carimbada em eventos gastronômicos em qualquer ponto do País.

E como estaria a casa sem ele? As filhas assumiram a administração do restaurante e a sinfonia das panelas ficou por conta de seu fiel escudeiro, Roberto Bento, o Betinho (foto), que mantém sua linha de ação e suas correntes de influência na manutenção do sempre curto cardápio da casa. Casa que é a mesma, claro que de uns tempos para cá não mais com a família morando, mas preservando toda a estrutura original, inclusive com as obras de arte tão a gosto de Zeca e Lélia.
Fomos conferir de perto, mesa para cinco pessoas. A carta de vinhos está bem mais enxuta do que a de tempos atrás, mas ainda mantém rótulos interessantes tanto em custo-benefício quanto aos que de vez em quando cometem alguns arroubos de gastança. Bem recompensados, é claro. No couvert (opcional e por pessoa), Terrine de siri, Pâtè de foie e Antepasto de jiló (comprado pronto, mas muito interessante).



E o chef ainda cometeu um agrado, oferecendo uma Sopa fria de abacaxi com toque de gengibre e espumante, Caviar de berinjela e Saladinha de folhas verdes com aceto.



Aí vieram as entradas. Seleção de verdes com peras caramelizadas, presunto Parma, lascas de Grana Padano e vinagrete de frutas vermelhas, que foi muito elogiado... 




... Carpaccio de peito de ato defumado ao molho de alcaparras com azeitonas, salada de rúcula e gruyère, também com ótima aceitação...




... e um Tartare de salmão e tomates-cereja com molho pesto, que estava saboroso, mas com o tempero se sobrepondo ligeiramente ao sabor do salmão.




Para o prato principal, três opções de carnes – e todas muito bem servidas para uma porção individual, dá para se dividir se for o caso. Carré de cordeiro grelhado com molho de cogumelos frescos e cuscuz de frutas secas, ...




... Tournedos de mignon ao molho de vinho, com risoto de zuchini e Parma...





... e Pato Rouco, que é a homenagem que o chef Betinho faz ao seu mestre (D'Acampora adorava pato), cozinhando a coxa/sobrecoxa na manteiga, cebola e alho-poró, servido com Fettuccine cebola roxa, tomate-cereja, bacon e azeite de oliva.




É o Prato da Boa Lembrança até o fim desse mês, quando o cardápio do bistrô será modificado, abrindo alas para o Ragu de carne seca de cordeiro com tortei de abóbora, o novo prato da promoção da rede de restaurantes da Boa Lembrança.

Para sobremesa, além do tradicional Crême brulée, delicado e crocante, como deve ser, Crispis de maçã com sorvete de creme.


Resumindo: uma boa noite de sabores e prazer, entremeando cavas e tintos portugueses nas taças.
Daqui uns dias algumas dessas receitas estarão por aqui, palavra do chef Betinho.

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